terça-feira, 28 de agosto de 2007

Se não posso fazer o que quero, então o que posso fazer?

Quantas vezes você já presenciou uma situação ruim, seja no trabalho, na faculdade, na rua, mas pensou consigo mesmo “infelizmente não tenho o poder para melhorar isso, pena”? Muitas vezes sabemos até o que poderia ser feito, mas sabemos que não podemos influenciar. Por exemplo, você sabe que sua empresa está uma droga por motivos X, Y, Z, mas você não está na posição de liderança adequada para alterar isso.

E aí você passa reto pela situação ou simplesmente fica chateado por não poder fazer nada ou então só reclama mesmo.

Eu muitas vezes já fiz isso, sentindo-me bastante frustrado. A última vez que isso me aconteceu foi no NPM (National Presidents Meeting, uma conferência nacional só para os presidentes da AIESEC Brasil). Eu não sou presidente, nem diretor nacional, sou do time de suporte nacional, então meu papel nesta conferência estava um pouco irrelevante para os meus padrões. Eu só tinha uma sessão, que considerava meio fluffy - a última do último dia, quando ta todo mundo morto de cansado. E era uma sessão de reflexão, onde a maioria simplesmente boicota pra conversar. Eu olhava praquilo e pensava “essa conferência não precisa de mim, eu não estou fazendo nenhuma influência aqui, mas que droga”.

Frustração pura.

Então no segundo dia da conferência apareceram alguns ex-membros da AIESEC para compartilhar a experiência deles, para dar uma luz na cabeça dos nossos presidentes do que fazer quando sua gestão terminar no fim do ano. Eram 4 ex-membros: Márcio Jappe (foi Presidente da AIESEC Brasil, hoje trabalha com sustentabilidade no ABN), Guga (também ex-Presidente da AIESEC Brasil, trabalhou no ABN com sustentabilidade e hoje trabalha numa ONG que fiscaliza os bancos), Zoe (foi Presidente na Austrália e Diretora da AIESEC Internacional, trabalha também no ABN com diversidade) e uma outra que eu não lembro o nome porque estava beijando a Anna nesse momento. Fizemos rodas de discussão, falaríamos com duas daquelas pessoas.

Primeiro fui falar com a Zoe, porque eu também quero ir pra AIESEC Internacional. Papo vai, papo vem, alguém faz uma pergunta mais ou menos assim “como foi a experiência de sair da AIESEC Internacional, tendo um poder imenso, para ser trainee no ABN da Holanda?”

Daí ela falou de toda a dificuldade, que no ABN ela era só mais uma trainee e na AIESEC ela tava lá no topo, a opinião dela era ouvida por estar no topo e depois avaliada, já no ABN a opinião era primeiro avaliada pra ser então ouvida. E que era bem difícil isso, mas ela sempre pensava “ok, se eu não tenho poder para fazer o que eu quero, então o que eu POSSO fazer? O que está ao meu alcance para impactar positivamente essa organização, o meu setor, o meu time, o meu colega?”

Aquilo me tocou de certa maneira. Aquela mensagem parecia quase que dirigida pra mim, algo como: você não está contente nessa conferência porque não pode ter o impacto estratégico que tu quer? Então qual impacto tu PODE fazer nessas pessoas? Se concentre nisso e impacte, pare de reclamar.

No fim da conversa, mudamos de grupo e fui falar com o Márcio Jappe. Qual não foi a minha surpresa quando uma outra pessoa fez a mesma pergunta sobre ter poder como presidente e perder o poder sendo trainee e como ele lidou com aquilo. A resposta foi praticamente igual a da Zoe. Usou quase as mesmas palavras. Aquilo estava sendo dito pra mim, eu sabia que precisava ouvir aquilo - eu tinha uma escolha a fazer, ouvir ou deixar passar.

Fui pra casa pensando profundamente nesse troço e decidi que ia parar de reclamar e causar um impacto positivo que estivesse ao meu alcance naquelas pessoas. Lembrei-me do clima morto que estava rolando na conferência. Não sei, parecia todo mundo cansado, desanimado, sentado meio deitado nas cadeiras, sem dancinhas AIESECas, sem risadas, enfim, não parecia uma conferência da AIESEC com tua sua energia. Decidi que isso era algo que eu podia mudar para tornar aquela experiência melhor para todos nós.

Então procurei a diretoria e falei desse sentimento que tive, que a própria diretoria tava meio marcha lenta (passando isso para os delegados), todos concordaram que estavam pra baixo e fizemos uma espécie de acordo para demonstrar energia no dia seguinte. Tiro e queda, o clima da conferência mudou pra melhor, já tinha até roll call sendo dançado.

Não parei por aí, umas duas horas antes da minha sessão (que tava pronta antes da conversa com os ex-membros), chamei a Anna e o Conrado para me ajudarem a ter idéias de como fazer uma metodologia muito foda para, mesmo que as pessoas estivessem cansadas por ser a última sessão do último dia, fazer com que elas refletissem e isso ajudasse na escolha dos seus caminhos futuros. Me puxei muito para fazer algo totalmente diferente das sessões de reflexão que eu já havia feito. Funcionou muito. As pessoas gostaram, a maioria tava engajada na sessão e alguns até me pediram o powerpoint pra aplicar depois.

Bingo! O poder estava na minha mão o tempo todo, só não era o poder que eu queria inicialmente, mas todo mundo tem algum poder. A escolha está em usá-lo ou ficar só reclamando.

O que está ao seu alcance mudar?

2 comentários:

  1. Cara,

    Legal e inspirador o teu blog. Ando meio procrastinando algumas coisas na vida, e teus textos me motivaram a escrever um pouco mais também, compartilhar reflexões!

    E eu assino embaixo sobre os comentários do Márcio e da Zoe. Mas mesmo assim escolhi caminhos diferentes :)

    Abracos
    Veds

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  2. Ae, Veds, obrigado pelo comentário. É ótimo saber que pra alguém também é útil o que eu escrevo. :)

    Pois é, tu é outro que foi presidente no brasil, trabalhou no ABN e agora, diferente de todos, tá na kaospilot na dinamarca. :)

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