segunda-feira, 3 de setembro de 2007

"Se um homem não sabe a que porto se dirige, nenhum vento lhe será favorável." - Sêneca

Acredito que isso faz sentido pra todo mundo: se você não sabe pra onde vai, será bem difícil chegar até lá. Quero dizer, você deve pegar um táxi? Um ônibus? Um avião? Navio? Ir a pé? Pedalando? Pela direita ou esquerda?

Nenhuma das alternativas acima está errada, tudo isso depende de onde você vai.

Ir para Milão ou até o centro de Porto Alegre são coisas bem diferentes, ainda que comecem com o mesmo passo: sair de casa. Se você não sabe o seu destino, com toda certeza terá problemas na hora de planejar, o que significa que também terá problemas em chegar até o destino.

Ainda que esteja acima me referindo a lugares físicos, é fácil transportar isso para coisas não-físicas. Aonde você quer chegar? O que quer ter? Onde quer viver? Que coisas não quer abrir mão? O que deseja conquistar? O mesmo pode ser feito para sua organização: aonde minha organização quer chegar? O que queremos que nossos clientes percebam? Queremos ser os melhores? Queremos ser os mais baratos? Queremos ser os mais lucrativos? Queremos ser especializados ou generalistas? Quem desejamos que compre da nossa organização?

É impressionante a quantidade de pessoas e organizações que não sabem aonde querem chegar - e conseqüentemente não chegam onde querem.

Quando nós 5 fomos eleitos para ser a diretoria da AIESEC Porto Alegre de 1º de janeiro a 31 de dezembro de 2006, assumimos um comitê estava realmente mal - em resultados, baixa retenção de talentos, processos totalmente desestruturados, o planejamento estratégico era irrelevante, enfim, a coisa estava ruim mesmo.

Justamente pela situação estar ruim, nós tínhamos diversos planos de melhorar radicalmente o comitê. Aquele tinha que ser o ano da virada. Então começamos a correr para fazer tudo da maneira mais perfeita possível. Não tinha nenhum critério, íamos tentando melhorar tudo, implementando tudo, tudo que vinha nós estávamos lá fazendo. Não é de se espantar que logo no início já estivéssemos estressados e nossos resultados não condiziam muito bem com o que desejávamos. As coisas eram mais difíceis que pensávamos. No nosso planejamento nós tínhamos acordado em abraçar o mundo - e estava ficando claro que não conseguiríamos. Mas o que fazer? Estávamos um pouco perdidos ainda.

Foi aí que recebemos a visita da diretoria nacional. Nosso coach era o Marcelo, diretor responsável pela região sul, um mineiro muito gente boa que depois de ser diretor do Brasil, foi Presidente no Cono Sur e agora está na DHL em Miami. O Marcelo, na primeira reunião com todo o EB que ele participou, mal se sentou à mesa e já disparou:

- E aí, o que a AIESEC faz? E por que faz?

Aquela pergunta foi meio desconcertante, não tínhamos pensando naquilo até então. Veja só, estávamos tão cheios de coisas pra fazer que não tínhamos parado pra pensar “ok, o que é que nossa organização faz”. Quando respondemos à questão, ele nos perguntou “e o que vocês estão fazendo hoje no comitê de Porto Alegre para isso?” Não foi difícil entender que nós estávamos fazendo um monte de coisas ao mesmo tempo, mas que muitas delas não levavam ao objetivo final da AIESEC: ativar a liderança de jovens para que eles impactassem positivamente a sociedade. E se não levava ao objetivo final, era esforço e estresse inútil que estávamos fazendo. Algo como subir com um barril de vinho para o sótão só para descobrir que deveríamos tê-lo levado ao porão.

Graças ao Marcelo nós entendemos que não tínhamos claro onde queríamos chegar, qual era o legado que a nossa diretoria queria deixar. Não sabíamos o que significaria no fim do ano “sucesso” para nossa gestão. Queríamos aumentar o número de intercâmbios? Queríamos implementar AIESEC XP? Queríamos uma seleção melhor? Queríamos aumentar a retenção? Afinal, que diabos queríamos? Se nós não sabíamos, ninguém mais poderia saber.

Depois disso fomos para o nosso primeiro Team Days, um momento que a diretoria se reúne para avaliar a situação atual, traçar estratégias, enfim, parar 2 dias no final de semana para pensar a estratégia e voltar com novo gás. O Conrado, que era o presidente da AIESEC Porto Alegre, facilitou conosco a construção da nossa visão para o fim do ano. A base para a construção da visão foi a visão 2010 da AIESEC, pegamos aquela visão e fizemos esse fluxo:

- Ok, isso é pra 2010 globalmente, o que significa ter isso no CL de Porto Alegre, qual a visão do nosso comitê para 2010?
- Estamos em 2006, quais os passos que temos que dar agora para chegar nessa visão em 2010? Afinal, sabíamos que não poderíamos fazer tudo de uma vez só.

Bem simples assim (aliás, a maioria das coisas são simples, nós as complicamos).

No fim ficou uma visão super-ambiciosa, mas nós acreditávamos nela o tempo todo - e ela estava 100% ligada à visão global da AIESEC. Foi um momento histórico pra gente. Aí transformamos as palavras da visão em metas numéricas. Finalmente nós tínhamos decidido o que queríamos entregar, a visão era a “foto” do nosso comitê local ao fim do ano.

A partir daí as coisas foram muito mais fáceis. Cada coisa que pensávamos em fazer olhávamos para a visão que definimos e pensávamos “isso vai ajudar em que a chegarmos aqui?”, “isso vai impactar nossas metas?” Se era necessário, fazíamos, se não, deixávamos de lado. Fizemos acompanhamento dessa visão ao longo do ano e ao fim chegamos aonde desejávamos. O resultado foi tão bom que fomos eleitos o melhor comitê local do Brasil no final do ano.

Se me perguntassem por que fomos os melhores em 2006, na minha opinião só quatro coisas foram essenciais:

- Ter uma visão relevante e clara do que queríamos entregar naquele ano
- Acreditar 100% nessa visão.
- Ter um planejamento 100% conectado com a visão
- Constantemente acompanhar o nosso progresso rumo à visão, bem como repensar novas estratégias e ações quando necessário para alcançá-la.

O resto não foi a diretoria que fez, foram os membros. Tendo os 4 itens acima, um time minimamente competente poderia ter feito.

3 comentários:

  1. ...vc tem toda razão!!!! sempre o melhor de nós ainda é pouco....
    entãooooo....precisamos de nos dedicar +....

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  2. Eu lembro que a gente só foi fazer essa visão em março/abril, e depois que fizemos a sensação era de que desde janeiro até então estávamos perdendo tempo. "Putz, a gente devia ter feito isso no começo do ano, perdemos um quarter..."

    E pra mim o ponto mais importante é acompanhar e avaliar essa visão de tempos em tempos, senão não precisa nem fazer ela. Vejo que muitos dos escritórios que eu visito têm uma visão, mas poucos acompanham ela com freqüência. Não por acaso estes são os mais bem sucedidos.

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